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  • Foto do escritorArthur Vieira

Investigação & Psicanálise: o paralelo traçado por The Alienist

Série traz inovações no universo das tramas policiais


O Alienista (The Alienist) é uma série estadunidense de 2018 baseada no romance homônimo do também estadunidense Caleb Carr. Produzida pela Netflix e com direção do irânico-britânico Hossein Amini, a obra é ambientada em Nova York no final do século XIX. Ela conta a história do alienista alemão Laszlo Kreizler (Daniel Brühl), que junto do seu amigo John Moore (Luke Evans), um repórter e ilustrador do New York Times, e a secretária de polícia Sara Howard (Dakota Fanning), investiga clandestinamente uma série de assassinatos de garotos prostitutos que misteriosamente andam ocorrendo na cidade, embora tenha sido encarregado pelo próprio comissário da polícia, Theodore Roosevelt (Brian Geraghty). Eles ainda contam com a ajuda dos irmãos legistas Marcus (Douglas Smith) e Lucius Isaacson (Matthew Shear).


Daí já se pode perceber uma das críticas inclusa no roteiro dessa obra, a corrupção policial. Quando surge a primeira vítima, logo no primeiro episódio, Laszlo percebe a negligência da polícia quanto ao caso, um dos motivos para que ele chame John e Sara para ajudá-lo na investigação. Roosevelt também percebe o comportamento estranho da sua equipe e por isso apoia o trio na investigação. Ainda nessa trama, Roosevelt desconfia da capacidade de Sara, mesmo ela sendo a primeira e única mulher a trabalhar na polícia de Nova York. Essa situação revela o machismo existente naquela sociedade, mas também serve como uma crítica ao sexismo existente ainda hoje e à dificuldade das mulheres de ascenderem a cargos que podem ser mais facilmente conquistados por homens. É ainda mais evidente essa situação quando a polícia se sente incomodada com a investigação de Laszlo, o que leva o espectador a desconfiar se ela está envolvida nos assassinatos.


A série também parece querer inovar no mundo das produções de investigação policial. Diferente de outras produções, a investigação é feita por um alienista, que nada mais era do que o psicanalista dos dias de hoje. Ao invés de focar na investigação em si, a série explora mais a mente de um serial killer. Laszlo é um homem que busca arduamente uma resposta para o que leva as pessoas a cometerem atos cruéis, isso, inclusive leva o próprio Laszlo a alguns surtos durante a investigação, mostrando ao público que os que trabalham com a mente humana não estão imunes aos seus problemas.


Por ser uma obra que quer explorar a psique humana, e faz isso por meio do próprio protagonista, não só os distúrbios psicológicos são apresentados nos personagens, mas também os desejos mais profundos dos mesmos, voltados em sua maioria para a sexualidade. Seja com um affair de Laszlo por sua empregada Mary, seja pela paixão que John sente por Sara, que sente também por Laszlo, e que se torna um ciclo ao longo da série, ou também pelas cenas dos garotos nos bordéis. Fato é que todos se envolvem com algum problema interno voltado aos seus instintos e paixões, e o drama envolto nessas cenas ressalta a abordagem inovadora que a obra faz numa investigação policial.


A desigualdade social é outro objeto de crítica bastante presente na série. Como exemplo, todas as vítimas do serial killer são garotos que trabalham nos bordéis da cidade para ter algum sustento, sem contar que a maioria ali, para não dizer todos, sofrem sérios abusos dos seus clientes, que são pessoas da chamada alta classe, revelando, dessa forma, a vulnerabilidade que essas pessoas sofrem dia a dia na sociedade. Toda essa relação e as cenas dos jovens nos bordéis é uma alegoria à fragilidade das classes sociais mais baixas no mundo atual. E também são símbolos da opressão que elas têm historicamente sofrido dos mais favorecidos financeiramente. Já a comoção que os investigadores têm pelas vítimas mostra que a empatia pelos mesmos só convém quando já estão mortos, até porque todos da equipe também pertencem à alta classe.


Agora, falando da parte técnica, a série surpreende por montar um roteiro bem desenvolvido, que envolve o público na trama e faz dele também um investigador, que não possui um ritmo muito acelerado com cenas de ação e cortes frenéticos, o que deixa o enredo mais realista. A série conta com ótimo figurino e cenário, dignos para representar uma cidade grande dos anos 90 do século XIX, além de uma fotografia exemplar. A direção de Hossein Amini também é de tirar o chapéu, junto às boas atuações de Daniel Brühl, Dakota Fanning e Luke Evans. O diretor consegue provocar tensão no público do início ao fim, sem apelar graficamente ou usar dos jumpscares (quando uma figura assustadora aparece repentinamente com um estrondo para assustar), a linguagem corporal do elenco também contribuiu positivamente para isso. Essas e outras razões levaram The Alienist a uma indicação no Emmy Awards para o prêmio de melhor minissérie.


Por Arthur Vieira

Publicada em 11/10/2020 pelo Jornal Primeira Impressão

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